quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Desalento, de Danilo Coimbra

Desalento
 Danilo Coimbra

 Num sussurro em desalento
Bate o meu peito agora
 Sonho de amor de outrora
Estéril, pesado e hirto

 Caminhos cruzados no passado
Hoje já passam de largo
 Já se ouve o último suspiro
Do coração que fora apaixonado

 Todo caminho tem um fim
 Como é este amor agora
Já não buscam mais meus olhos
Aqueles olhos que buscou outrora

Batem os sinos em soluços
 Pelo fim de um amor sem esperança
Que já nasceu fadado ao fracasso
De estar sempre apenas na lembrança

Dá adeus aos teus sonhos agora
Põe um fim nas ilusões que tinhas
Já não possui mais nenhum perfume
As murchas rosas de outrora

Rosas da Vida

Rosas da Vida _ Está cansada, Hadassa?- Perguntou a menina de olhos inquietos e pés descalços. _ Não, amorzinho! Adivinhas o que trouxe para ti? _ Chocolate?!_ Bateu palmas a pequena. _ Sim. _ Sorriu Hadassa, enquanto rodopiava a pequena nos braços. _ Sabe que hoje vendi muitas flores, Bianca? _Quantas. _ Todo o cesto. É por isso que trouxe chocolate. _ Que bom, Hadassa! Quero que todos os dias vendas todas as flores do cesto. _ Quem dera, Bianca. _ Quem comprou as flores? Um namorado? _ Sim. Na verdade, também uma senhora. _É namorada? _ Não, a pobre levou para colocar no túmulo de um rapaz. _ Um rapaz? Era filho? _ Não. Era namorado de quando era jovem. _ E não casou com outro? _ Não. _ É bem velha? _Um pouco. _ Estava chorando? _ Não. Tinha os olhos secos. Disse que há muito se tinham secado as suas lágrimas. _ Pobre senhora. _ Ela me disse que hoje havia sonhado com o namorado e que ele era mais jovem ainda do que era quando partira. _ E como foi o sonho? _ Disse que o rapaz a beijara. Ela sorriu, porque disse que nunca havia sonhado com o beijo do namorado. _ Não?! _ Disse-me que não. Ela também me disse que no sonho ela havia lhe dito que o amaria para sempre. É por isso que ele a beijara. _ Bonita história, Hadassa. É pena que seja muito triste. Pensei que todos os namorados fossem felizes para sempre. _ Nem sempre. Pobre senhora. Era uma mulher muito triste. _ Não casou com o namorado? _Não. Ele morreu antes. _ Do que morreu o namorado? _ Não sei, Bianca. Não tive coragem de perguntar. É feio bisbilhotar a vida dos fregueses. _ E o que mais disse a senhora? _ Disse que eram namorados desde pequeninos e que ele vivia dizendo que a amava. Ela me disse que ele havia dito que ela era o seu primeiro e único amor. _ Triste, não? _ Bem triste. Onde está mamãe, Bianca? _ Já dorme, é bem tarde. _ E por que ainda está acordada? _ Porque te esperava, maninha do meu coração. Sabe, Hadassa, sou como a senhora das flores, eu vou te amar para sempre. Só que você vai viver muitos anos e vai morrer bem velhinha. E todas as rosas que eu te der, serão para enfeitar a vida. FIM