Atrás da porta
A menininha
olha para a porta que se fechou. “Onde está a mamãe? Ela sumiu atrás da porta.”
A menininha
chora. Ela tem vontade de sair pela porta.
Mas a moça não deixa. A moça diz:
_ Pare
de chorar, menininha. Vamos brincar com os coleguinhas!
A menininha
não quer brincar. Ela quer a mamãe, que ficou atrás da porta. A porta está
trancada. Foi a moça malvada quem trancou. Como ela tem coragem? Ela não tem pena da menininha?
Sim, a
moça tem pena da menininha. Queria deixar a menininha passear pelos campos de
mãos dadas com a mãe. Mas não pode. O tempo de passeio acabou. Tão cedo? A
menininha ainda é tão pequena. Só está começando a vida.
Mas é
cedo que a menininha tem que aprender que, às vezes, temos que ficar atrás da
porta que se trancou, para construirmos o nosso futuro. A moça sabe disso, mas
a menininha não sabe ainda. Então ela chora e chora. A moça senta com ela atrás
da porta e espera também.
Os dias
passam e a menininha continua chorando. E a moça ainda está sentada atrás da
porta com ela, esperando que ela pare de chorar.
Finalmente
a menininha para de chorar e ela e a moça percebem que agora podem começar a
construir um futuro juntas.
O sol
passa a brilhar, as flores desabrocham e a menininha aprende coisas novas com
os coleguinhas e a moça. A menininha já não acha mais que a moça é malvada. Ela
brinca com as crianças. E o melhor de tudo: a moça entende e sabe falar o “meninês”.
A menininha
cresce um pouquinho e vai embora. O tempo passa e a moça também vai embora.
Muito
tempo se passa. A menininha vira moça e a moça vira senhora. Então, menininha
(agora moça) e moça (agora senhora) se encontram novamente. E a menininha
(agora moça) descobre que a moça (agora
senhora) continua trancando portas, só que para moças.
As
moças tem que aprender que, às vezes, temos que trancar algumas portas, para
podermos construir um futuro. Mas as moças não entendem isso. Então a senhora
se pergunta quanto tempo ainda terá que ser malvada e continuar trancando
portas para menininhas e moças.
A senhora
não chora, mas fica muito triste. Ela já não tem certeza se ainda consegue fazer
o sol brilhar, as flores desabrocharem e nem que as moças aprendam com ela e os
coleguinhas. Ela olha pra porta e sente vontade de passar por ela, como tinha
vontade a menininha . Mas a senhora não pode passar, porque a porta está
trancada.
Então
alguém lhe diz que lhe deixaram uma carta. De quem será? Quando começa a ler, ela
vai percebendo que a carta é da menininha.
Ela diz que se lembra da senhora ter ficado com ela atrás da porta,
enquanto chorava, ainda muito pequena. A menininha lhe agradece por ter
trancado a porta.
A senhora
fica feliz de novo e agradece a menininha por ter deixado aberta a porta do seu
coração e acha que ainda pode ver o sol brilhar, as flores desabrocharem e continuar ensinado e aprendendo coisas novas
com as moças.
Mas isso
dura pouco tempo. Porque o céu começa a escurecer, o vento passa a soprar e a senhora
olha de novo para a porta. A senhora tenta sair, mas a porta continua trancada.
A senhora senta e chora atrás da porta. Os amigos da senhora sentam junto com
ela atrás da porta. Eles dizem:
_ Pare de chorar, senhora. Vamos
conversar com os colegas!
A senhora não quer conversar. Ela
quer ir para casa. A porta está trancada e ela continua chorando. Ela olha para
o quadro e se desespera. Ela já não é capaz de traduzir uma única palavra do “meninês”.
Então a senhora se levanta, destranca a porta e vai embora.
O tempo passa e a senhora volta.
Mas o sol já não brilha e as flores estão murchas. A porta continua trancada
para a senhora e para as moças. A senhora
entende que temos que trancar algumas portas, para podermos garantir o futuro. Mas
ela já não sabe se vale a pena ser malvada e continuar trancando portas para menininhas
e moças. E o pior de tudo: a senhora tem que continuar, mesmo sabendo que já
não entende e nem sabe falar o “meninês”.
FIM
Rose Amaral
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