O cinema no Brasil
A
novidade cinematográfica chegou cedo ao Brasil. Os aparelhos de projeção
exibidos ao público europeu e americano no inverno de 1895-1896 começaram a
chegar ao Rio de Janeiro em meio deste último ano. No ano seguinte, a novidade
foi apresentada inúmeras vezes nos centros de diversão da capital. Em 1898,
foram realizadas as primeiras filmagens no Brasil.
Durante
os dez primeiros anos, o cinema teve pouca expressão . Só em 1907 houve no Rio
energia elétrica produzida industrialmente, e então o comércio cinematográfico
floresceu, com um quadro técnico, artístico e comercial do nascente cinema,
formado quase que exclusivamente por estrangeiros que já tinham alguma
experiência na área cinematográfica em seus países de origem.
Os pioneiros: Entre 1908 e 1911, o Rio conheceu a idade do ouro do cinema
brasileiro, predominando uma produção em que os filmes reconstituíam os crimes,
que impressionavam a imaginação popular. Essa idade do ouro não poderia durar,
pois sua eclosão coincide com a transformação do cinema artesanal em importante
indústria nos países mais adiantados.. Subsistiu, contudo, um debilíssimo
cinema brasileiro. De 1912 em diante, durante dez anos, foram produzidos
anualmente apenas cerca de seis filmes de enredo, nem todos com tempo de
projeção superior a uma hora. Os principais realizadores do período foram
Francisco Serrador, Antônio Leal e os irmãos Botelho.
Todas as
filmagens brasileiras realizadas até 1907 limitavam-se a assuntos naturais. A
ficção cinematográfica, o "filme posado" só apareceu com o surto de
1908 e a primeira fita de ficção realizada no Brasil foi Os estranguladores de
Antônio Leal.
1912 – 1922: Este período é marcado pela primeira grande crise do nosso cinema,
com problemas de produção e dificuldades de exibição nas salas de cinema,
ocupadas pelos filmes norte-americanos, que vinha predominando no mercado
mundial. Nestes anos, o cinema brasileiro foi amparado pela produção de
documentários e cine-jornais, que levantavam recursos para a produção de filmes
de ficção. São dessa época as chamadas "cavações", onde por exemplo
uma grande indústria contrata um cinegrafista e sua equipe para fazer um
documentário institucional sobre a empresa, ou ainda importantes famílias
encomendavam o registro de casamentos ou batizados. Entre os filmes desse
tempo, destacam-se os calcados em obras célebres da literatura brasileira,
principalmente as do período romântico.
1923-1933: Aproximadamente em 1925, dobra a média de produção anual, e há
progresso na qualidade. Além do Rio de Janeiro e de São Paulo, produzem também
as capitais de Pernambuco, do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais (com o famoso
ciclo de Cataguases, de Humberto Mauro e a Phebo Films) . Em torno de 1930,
nasceram os clássicos do cinema mudo brasileiro. Porém, quando o nosso cinema
mudo alcança essa relativa plenitude, o filme falado já está vitorioso em toda
parte.
Datam
destes anos também os primeiros sinais da tomada de consciência cinematográfica
nacional, com as revistas e jornais dedicando colunas e matérias ao filme
brasileiro, como por exemplo a Cinédia.. Consagram-se nessa época alguns nomes
do cinema brasileiro, entre eles Mário Peixoto, que produziu O limite (1931),
último filme mudo que se tornou um clássico vanguardista; Gilberto Rossi, Edgar
Brasil, Humberto Mauro. É nessa época, com os filmes Barro Humano e Brasa
Dormida realizados por Humberto Mauro que se demonstrou que o cinema nacional
começava a dominar os recursos do cinema narrativo. Os dois expoentes dessa
época, realizados pela Cinédia, produtora de Ademar Gonzaga, foram Ganga Bruta
de Humberto Mauro e Limite de Mário Peixoto.
1934 –1949: A história do cinema falado brasileiro abre-se com um longo e
penoso reinício. Durante as décadas de 1930 e 1940, a produção se limita
praticamente ao Rio de Janeiro, onde se criam estúdios mais ou menos
aparelhados. O resultado mais evidente foi a proliferação do gênero da comédia
popularesca, vulgar e freqüentemente musical, registrou e exprimiu alguns
aspectos e aspirações do panorama humano do Rio de Janeiro através das
chanchadas. Os principais estúdios que se mantiveram ativos foram Brasil Vita
Filmes ,de Carmem Santos e Cinédia de Ademar Gonzaga.
Essa
produção de chanchadas carioca lançou um conjunto de atores como Mesquitinha,
Oscarito e Grande Otelo, que foram os principais responsáveis pela aproximação
do filme brasileiro com o público. Enquanto a década de 30 foi marcada por uma
produção sob a égide da produtora Cinédia.
Os anos
40 já conta com a hegemonia da Atlântida, que revitalizou a produção brasileira
, buscando desenvolver temas brasileiros. Além dos “alôs-alôs” musicais,
destacam-se: Moleque Tião (1943), de José Carlos Burle, Gente Honesta
(1944), de Moacir Fenelon e O cortiço (1945), de Luís de Barros. No
entanto, só as chanchadas faturavam.
1950-1966: A década de 1950 marca,em São Paulo, a tentativa de se implantar a
indústria cinematográfica, juntamente com a inauguração de um importante
movimento teatral, marcado pela fundação do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia)
e a implementação das artes plásticas, abrindo as portas do MAM (Museu de Arte
Moderna). A fundação da Vera Cruz fez parte de um projeto estético-cultural
mais amplo, que previa para São Paulo a vitalização da vida cultural, conduzida
pela burguesia industrial, buscando uma hegemonia na vida política e cultural
do país.
A
produção da Vera Cruz era caracterizada por um sistema de estúdios, com a
preocupação de produzir industrialmente seus filmes, que constituíam dramas
universais, no melhor estilo hollywoodiano, lançando no mercado um verdadeiro
star-system composto por nomes como os de Tônia Carrero, Anselmo Duarte, Jardel
Filho, Marisa Prado, Eliana Lage entre outros. O grande salto dado pela Vera
Cruz foi sem dúvida o qualitativo técnico, pois era bem equipada, contava com
uma equipe técnica – maior parte estrangeira – que trazia consigo a experiência
de fora, suas produções traduziam a preocupação de ser um cinema sério, bem
diferente das chanchadas cariocas produzidas pela Atlântida. No entanto os
motivos do fracasso do estúdio são, entre outros, alto custo dos seus filmes, a
ausência de uma distribuidora própria – sofrendo dificuldades de escoar seus
produtos ao mercado e salas de cinema brasileiras. A sua principal obra
comercial, que ganhou Cannes, foi o Cangaceiro (1953), de Lima Barreto,
que inaugura o gênero de cangaço.
Paralelamente
aos estúdios e em oposição a eles, tanto na sua vertente paulista quanto
carioca, surgiu uma geração de realizadores independentes, que asseguraria a
continuidade dos filmes de pretensões artísticas. Entre estes, destaca-se a
produção de cineastas como Walter Hugo Khouri, que deu seguimento ao cinema de
pretensões universalistas da Vera Cruz, realizando dramas psicológicos nos
moldes do cinema clássico, e Nelson Pereira dos Santos, que enveredou por um
cinema de tom neo-realista, fugindo aos padrões dos estúdios ao filmar Rio
40º (1955), de Nelson Pereira dos Santos e Rio, Zona Norte. Nelson
assume papel de destaque no cinema brasileiro, fundando aqui o cinema moderno,
aproximando-se da geração de jovens críticos e realizadores, e compondo com
eles o Cinema Novo, o mais importante movimento do cinema brasileiro e momento
de plena maturidade artística e cultural do nosso cinema.
Os cinco
primeiros anos da década de 1960 são dominados, entretanto, pelo fenômeno
baiano, que se constitui de um conjunto de filmes realizados na Bahia,
produzidos alguns por baianos e outros por sulistas: Bahia de todos os
santos e O Pagador de Promessas (1961), de Anselmo Duarte,
destacam-se , o primeiro pelo pioneirismo de sua função, e o segundo pelo
equilíbrio de sua fatura.
É a
erupção do chamado Cinema Novo, movimento notadamente carioca que engloba de
forma pouco discriminada tudo o que se fez de melhor no moderno cinema
brasileiro. Com diretores premiados como Glauber Rocha, Paulo César Sarraceni,
Joaquim Pedro de Andrade, Ruy Guerra, Carlos Diegues, Sérgio Ricardo, Walter
Lima Jr...
Um outro
marco importante no cinema brasileiro são as chanchadas da Atlântida. Com ela,
a produção foi ininterrupta durante cerca de vinte anos de filmes musicais e de
chanchada. O público que garantiu o sucesso dessas fitas encontrava nelas,
modelos de espetáculos que possuem parentesco em todo o Ocidente mas que emanam
diretamente de um fundo brasileiro. A esses valores relativamente estáveis os
filmes acrescentavam a contribuição das invenções cariocas efêmeras em matéria
de anedota,que encontrou na chanchada uma possibilidade de cristalização mais
completa do que anteriormente na caricatura ou no teatro de variedades.
Os anos 70 e 80 (século XX): O final da década de 60 foi marcado pelo auge da
repressão. Desbaratados os movimentos artístico-culturais pela violência do
AI-5, a censura e o exílio afetaram o cinema nacional. Proliferou a
pornochanchada e predominaram os filmes
de objetivo puramente comercial. No entanto, inquietações e questionamentos se
expressaram na forma de importantes contribuições à filmografia brasileira.
Adaptações de obras literárias aprofundaram análises sociais e psicológicas (São
Bernardo, de Leon Hirszman; Tenda dos Milagres, de Nelson Pereira). Foram
de grande expressão: Dona Flor e seus dois maridos, de Bruno Barreto e Lúcio
Flávio, o passageiro da agonia, de Hector Babenco e Bye Bye Brasil, de Carlos Diegues .
A abertura política (1979) favoreceu a
abordagem de temas antes proibidos : Eles não usam black-tie, de Leon
Hirszman; Pixote, a lei do mais fraco, de Hector Babenco e Pra frente
Brasil (1983), de Roberto Farias. A diversidade de temas, estilos e
linguagens caracterizou a produção desta época: Inocência (1983), de
Walter Lima Jr; Memórias do cárcere (1984), de Nelson Pereira dos
Santos; Eu sei que vou te amar (1985), de Arnaldo Jabor; A marvada
carne (1985), de André Klotzel, etc.
Os anos
90 : Depois veio a crise, e de 112 filmes feitos em 1987 a produção desceu para
zero em 1990. A partir da segunda metade da década de 90, porém, foram lançados
filmes de qualidade, como Carlota Joaquina, princesa do Brasil, de Carla
Camurati; O quatrilho, de Fábio Barreto e Tieta do Agreste
(1996), de Carlos Diegues.
O cinema
do século XXI:
* Carla
Miucci Ferraresi é produtora e pesquisadora de documentários; é bacharel em
História e Ciências Sociais, e doutoranda em História Social (FFLCH/USP).
Retomada
Em dezembro de 1992, ainda no governo
de Itamar
Franco, o Ministro da Cultura Antonio
Houaiss cria a Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual, que libera
recursos para produção de filmes através do Prêmio Resgate do Cinema Brasileiro
e passa a trabalhar na elaboração do que viria ser a Lei do Audiovisual, que
entraria em vigor no governo de Fernando Henrique Cardoso.A partir de 1995, começa-se a falar numa "retomada" do cinema brasileiro. Novos mecanismos de apoio à produção, baseados em incentivos fiscais e numa visão neo-liberal de "cultura de mercado", conseguem efetivamente aumentar o número de filmes realizados e levar o cinema brasileiro de volta à cena mundial. O filme que inicia este período é Carlota Joaquina, Princesa do Brazil (1995) de Carla Camurati, parcialmente financiado pelo Prêmio Resgate. No entanto, as dificuldades de penetração no seu próprio mercado continuam: a maioria dos filmes não encontra salas de exibição no país, e muitos são exibidos em condições precárias: salas inadequadas, utilização de datas desprezadas pelas distribuidoras estrangeiras, pouca divulgação na mídia local.
Alguns filmes lançados nos primeiros anos do novo século, com uma temática atual e novas estratégias de lançamento, como Cidade de Deus (2002) de Fernando Meirelles, Carandiru (2003) de Hector Babenco e tropa de elite (2007) de José Padilha, alcançam grande público no Brasil e perspectivas de carreira internacional.
A
partir de 1995,
começa-se a falar numa "retomada" do cinema brasileiro. Novos
mecanismos de apoio à produção, baseados em incentivos fiscais e numa visão
neo-liberal de "cultura de mercado", conseguem efetivamente aumentar
o número de filmes realizados e levar o cinema brasileiro de volta à cena
mundial. O filme que inicia este período é Carlota Joaquina, Princesa do
Brazil (1995) de Carla Camurati, parcialmente financiado pelo Prêmio
Resgate.
Alguns
filmes lançados nos primeiros anos do novo século, com uma temática atual e
novas estratégias de lançamento, como Cidade
de Deus (2002) de Fernando Meirelles, Carandiru
(2003) de Hector Babenco e tropa
de elite (2007) de José
Padilha, alcançam grande público no Brasil e perspectivas de carreira
internacional.
Pixote- A Lei do Mais Fraco foi considerado o melhor filme estrangeiro, em
1981, pela Associação dos Críticos de Los Angeles e Nova York. Marília Pêra
recebeu menção de melhor atriz do ano pela Sociedade Nacional dos Críticos de
Cinema nos Estados Unidos.
Central do Brasil
Prêmios de Melhor Filme e Melhor Atriz (Fernanda Montenegro)
no Festival de Berlim (1998); vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro;
recebeu duas indicações ao Oscar - Melhor Atriz (Fernanda Montenegro) e Melhor
Filme Estrangeiro.
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