sábado, 26 de abril de 2014

Confissões de uma professora adolescente

Confissões de uma professora adolescente

Eu tive um sonho muito estranho. Sonhei que tinha dezesseis anos novamente. Estava sentada em uma lanchonete que tinha perto da minha escola e estava sozinha. Eu nunca ia àquela lanchonete sem minhas amigas. 
        De repente eu olhei pra mesa ao lado e vi uma mulher de quase quarenta anos e levei um baita susto. Aquela mulher era eu! Ela não estava nem aí pro seu lanche e parecia corrigir um monte de provas. Corrigindo prova aos quarenta anos?! Eu nem queria ser professora. Estava fazendo Normal porque a minha mãe tinha mandado. 
        Deu vontade de chamá-la. Falar com ela. Mas fiquei com medo. Com aqueles óculos de professora na ponta do nariz, era claro que ela ia me dar a maior bronca por interrompê-la. 
        Em dado momento a bolsa começou a apitar. Será que estava pegando fogo? Então ela abriu e tirou uma caixinha de metal e começou a falar. Será que estava ficando doida? Falando sozinha! Só se fosse um gravador. Mas ela parecia estar falando com alguém. 
        De repente ela se levantou, andou de um lado pra outro e começou a gritar com a caixinha. Guardou na bolsa e começou a reclamar que detestava  aquela célula, celular, sei lá. Não entendi aquilo mesmo. E o pior de tudo era que ela também não parecia entender. 
        Então ela sentou na cadeira e abriu uma maletinha de metal. Aí começou a reclamação de novo. Foi aí que ela finalmente me viu. Então ela sorriu. Daí eu pensei: Ela me reconheceu! 
        _ Ei, garota. _ Ela me disse. _ Pode me dar uma ajudinha com esse laptop? 
        _ Lap o quê? 
        _ Ih, garota, está mais por fora do que eu! O que você fica fazendo na lan house? Deixa pra lá. Não gosto mesmo dessa tranqueira. Eu prefiro mesmo é o cuspe e giz. Você é minha aluna? Conheço você de algum lugar. Vai ser professora? Vai se arrepender. Vai comer giz a vida inteira e quando estiver quase na hora de se aposentar, vão colocar uma máquina assassina na sua mão e vão te mandar se virar. Deixa pra lá. Vou pra casa ver minha novela. Que vontade de jogar tudo fora. Beijinho. 
        E ela foi embora sem nem se dar conta de que eu era ela. Ou ela era eu. Então eu acordei e vi que tudo continuava igual. Era o meu celular me acordando para dar aula. 

FIM
Rose Amaral

         

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