segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Olga

 Olga

Olga foi à frente da classe para iniciar o trabalho. Não era bem do tipo popular, uma estranha no ninho,como muitas vezes se sentia Anabel naquela escola.
Olga era estranha, é bem verdade, mas não tanto para receber tantos agravos como recebia.
Os demais do grupo haviam faltado. Uma dor de barriga coletiva? O professor não deu moleza. Ou Olga apresentava sozinha ou ficava sem a nota.
Sentiu que a garota arrastava os pés. Pareceu não dar confiança para os risos. A turma já começava a caçoar antes mesmo da garota abrir a boca. Fabríca parecia liderar as alfinetadas. Logo Fabrícia.Que vontade de rir.Não queria se meter, mas logo Fabrícia. Qual é? A garota não tinha espelho em casa? E porque Olga não a colocava em seu devido lugar?  
A bagunça estava geral. O trabalho havia começado e o professor não falava nada. Olhou nos olhos de Olga. Estava na cara que ela não suportava aquele lugar. Ir à escola não passava de uma obrigação.
Eles depreciaram sem pena e sem dó, sem nenhum motivo aparente. Anabel olhava um por um. Fabrícia, Fred, Alex, cada um tinha uma piadinha para soltar para a menina. Céus, o que uma pessoa tem que fazer para ganhar pontos? Entendeu a dor de barriga coletiva daquele grupo. Apresentar um trabalho naquela turma era o mesmo que ser atirado numa arena de leões.
Olga mantinha-se quase fria.Falava sobre o trabalho. Escorregava aqui, mantinha-se firme ali. Por hora brincava também e em outros despejava respostas cáusticas. Ninguém é de ferro. Olga detestava todos eles. Estava escrito em sua testa.
Fabrícia ficou sem graça, mas não se deu por vencida. Fred calou a boca logo que foi confrontado com uma resposta inteligente em rebate a uma coisa errada que ele julgava certa.
Simone ajudava. Simone era uma boa alma. O trabalho terminou e o professor deu os parabéns.
Anabel sentiu nojo de tudo aquilo. Nojo de seus amigos, se assim os podia chamar, que diziam toda sorte de desaforos a fim de unicamente desestabilizar o trabalho da colega. Nojo do professor que não tinha forças para combater uma turma tão insuportável. Anabel não era cega. Ele também não gostava deles. Ele simplesmente se deixara vencer. Entrava na sala. Comentava a matéria em respeito a quem viera realmente estudar. Recebia outros comentários jocosos e mandava de volta outros, que a turma nem sempre tinha inteligência para discernir. Passava o dever. Fazia a chamada. Vez ou outra olhava para o relógio e só dava um leve sorriso quando o sinal já ia bater.  
O pior de tudo fora o nojo que Anabel sentira dela mesma por não ter defendido Olga. Simone não tivera coragem? Por que Anabel ficara quieta? Sabia a resposta. Era uma covarde. Não podia entrar em atrito com aquela gente. Não era como Simone, a queridinha de todos. Estava do outro lado, como Olga e o próprio professor. Naquela sala, para sobreviver, era necessário matar um leão por dia.

   

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