segunda-feira, 30 de novembro de 2015


Aprendendo a fazer vasos

Cris Lua
Rose Amaral

            Dizem que casamento é como um vaso que, quando quebra, não dá mais para colar. Eu sempre tive a mesma opinião. Acho que não dá para colar um vaso.  Eu mesma já tentei colar um, só que não consegui. Na verdade, todas as outras pessoas esperam que uma mulher não consiga fazer isso. Parece uma tarefa insuperável para qualquer mulher. E assim foi pra mim.
            Quando comecei a fazer o meu vaso, as coisas pareciam muito difíceis.  E todo mundo duvidou que eu conseguisse. Eu era tão jovem, tão inexperiente em matéria de vasos e não tinha a menor ideia de como começar a fazê-lo.  Acredito que outras em meu lugar nem mesmo teriam tentado, mas o conteúdo daquele vaso era muito precioso para ficar exposto. Eu precisava guardá-lo.
            O meu vaso podia até não ser o mais bonito por fora, nem o maior e muito menos o mais sólido, mas o conteúdo era tão precioso e para mim tão caro, que resolvi tentar e finalmente terminei meu vaso.
            Todavia, no fundo, eu não podia negar que aquele vaso era muito pesado para mim. Eu comecei a fazê-lo quando outras garotas da minha idade nem ao menos pensavam em fazer vasos. Mas eu tinha decidido fazê-lo e com todas as forças procurava carregá-lo da melhor maneira que podia.
            E foi de repente que eu vi meu vaso espatifar em mil pedaços pelo chão. Eu rapidamente peguei o conteúdo que restava e coloquei dentro de um copo e respirei, ainda que com dor, aliviada ao perceber que aquilo que eu mais prezava, continuava intacto.
            Eu fiquei ali, magoada e desanimada, diante de tantos cacos, que foi o que restou do meu vaso. Rapidamente me ofereceram uma pá e uma vassoura para varrer e jogar numa lata lixo todos aqueles cacos. Mas eu não queria e não podia jogar no lixo aquilo que tinha restado do meu vaso. Então eu peguei uma caixa e comecei a recolher um a um, os cacos do meu vaso. E comecei pacientemente o doloroso trabalho de colar cacos.
            Já sabia que seria muito difícil, mas eu não tinha ideia do quanto era pesado aquele trabalho.  E todos os dias eu me sentava e tentava refazer o meu vaso.  Mas por mais que eu me concentrasse, nunca considerava que aquele trabalho estava ficando direito.
            Até que desisti do meu vaso. As pessoas tinham razão: era uma tarefa insuperável para qualquer mulher. E assim foi pra mim. Então passei a mão no meu copo e continuei o meu caminho. Tantas pessoas usam copos. Eu podia fazer o mesmo.
            No princípio me pareceu bem mais fácil. Carregar copos era bem mais leve e eu podia resolver coisas que não tinha resolvido nos tempos de menina.
E o tempo foi passando e então percebi que sentia falta do meu vaso. Copos são práticos, mas os vasos são moldados de acordo com os conteúdos que nos são mais caros e não queremos perder. Copos são tão fáceis de serem confundidos e não têm a marca personalizada de um vaso.
Caminhei até o guarda-roupa e puxei da prateleira mais alta, aquela caixa onde havia guardado os cacos do meu vaso. Reuni todos eles e tomei uma decisão: queria o meu vaso de volta.  Sabia que não dava mais para colar os cacos, mas um vaso novo também não me interessava. Vasos novos também se quebram e tudo o que eu queria era o meu vaso antigo.
Não havia outra alternativa, para ter meu vaso de volta, era necessário esmiuçar os pedaços para que virassem pó. E foi com esse pó que comecei a fazer um novo vaso, com a mesma matéria do primeiro.
Tem gente que não suporta a ideia de vasos reciclados, mas eu não sou os outros. Eu faço o que considero certo, porque peso bem minhas decisões. Fazer vasos é uma coisa trabalhosa. Vasos novos ou reciclados exigem paciência e amor. Sinto que o vaso que carrego agora é mais resistente e eu o levo sem medo, porque sou transparente no que faço e não tenho medo de ser feliz.

FIM


28/05/2015

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