Aprendendo a fazer
vasos
Cris Lua
Rose Amaral
Dizem que
casamento é como um vaso que, quando quebra, não dá mais para colar. Eu sempre
tive a mesma opinião. Acho que não dá para colar um vaso. Eu mesma já tentei colar um, só que não
consegui. Na verdade, todas as outras pessoas esperam que uma mulher não
consiga fazer isso. Parece uma tarefa insuperável para qualquer mulher. E assim
foi pra mim.
Quando
comecei a fazer o meu vaso, as coisas pareciam muito difíceis. E todo mundo duvidou que eu conseguisse. Eu
era tão jovem, tão inexperiente em matéria de vasos e não tinha a menor ideia
de como começar a fazê-lo. Acredito que
outras em meu lugar nem mesmo teriam tentado, mas o conteúdo daquele vaso era
muito precioso para ficar exposto. Eu precisava guardá-lo.
O meu vaso
podia até não ser o mais bonito por fora, nem o maior e muito menos o mais
sólido, mas o conteúdo era tão precioso e para mim tão caro, que resolvi tentar
e finalmente terminei meu vaso.
Todavia, no
fundo, eu não podia negar que aquele vaso era muito pesado para mim. Eu comecei
a fazê-lo quando outras garotas da minha idade nem ao menos pensavam em fazer
vasos. Mas eu tinha decidido fazê-lo e com todas as forças procurava carregá-lo
da melhor maneira que podia.
E foi de
repente que eu vi meu vaso espatifar em mil pedaços pelo chão. Eu rapidamente
peguei o conteúdo que restava e coloquei dentro de um copo e respirei, ainda
que com dor, aliviada ao perceber que aquilo que eu mais prezava, continuava
intacto.
Eu fiquei
ali, magoada e desanimada, diante de tantos cacos, que foi o que restou do meu
vaso. Rapidamente me ofereceram uma pá e uma vassoura para varrer e jogar numa
lata lixo todos aqueles cacos. Mas eu não queria e não podia jogar no lixo
aquilo que tinha restado do meu vaso. Então eu peguei uma caixa e comecei a
recolher um a um, os cacos do meu vaso. E comecei pacientemente o doloroso
trabalho de colar cacos.
Já sabia que
seria muito difícil, mas eu não tinha ideia do quanto era pesado aquele
trabalho. E todos os dias eu me sentava
e tentava refazer o meu vaso. Mas por
mais que eu me concentrasse, nunca considerava que aquele trabalho estava ficando
direito.
Até que
desisti do meu vaso. As pessoas tinham razão: era uma tarefa insuperável para
qualquer mulher. E assim foi pra mim. Então passei a mão no meu copo e
continuei o meu caminho. Tantas pessoas usam copos. Eu podia fazer o mesmo.
No princípio
me pareceu bem mais fácil. Carregar copos era bem mais leve e eu podia resolver
coisas que não tinha resolvido nos tempos de menina.
E o tempo foi passando e então
percebi que sentia falta do meu vaso. Copos são práticos, mas os vasos são
moldados de acordo com os conteúdos que nos são mais caros e não queremos
perder. Copos são tão fáceis de serem confundidos e não têm a marca
personalizada de um vaso.
Caminhei até o guarda-roupa e puxei
da prateleira mais alta, aquela caixa onde havia guardado os cacos do meu vaso.
Reuni todos eles e tomei uma decisão: queria o meu vaso de volta. Sabia que não dava mais para colar os cacos,
mas um vaso novo também não me interessava. Vasos novos também se quebram e
tudo o que eu queria era o meu vaso antigo.
Não havia outra alternativa, para ter
meu vaso de volta, era necessário esmiuçar os pedaços para que virassem pó. E
foi com esse pó que comecei a fazer um novo vaso, com a mesma matéria do
primeiro.
Tem gente que não suporta a ideia de
vasos reciclados, mas eu não sou os outros. Eu faço o que considero certo, porque
peso bem minhas decisões. Fazer vasos é uma coisa trabalhosa. Vasos novos ou
reciclados exigem paciência e amor. Sinto que o vaso que carrego agora é mais
resistente e eu o levo sem medo, porque sou transparente no que faço e não
tenho medo de ser feliz.
FIM
28/05/2015
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