Olga foi à frente da classe para
iniciar o trabalho. Não era bem do tipo popular, uma estranha no ninho,como
muitas vezes se sentia Anabel naquela escola.
Olga era estranha, é bem verdade,
mas não tanto para receber tantos agravos como recebia.
Os demais do grupo haviam
faltado. Uma dor de barriga coletiva? O professor não deu moleza. Ou Olga
apresentava sozinha ou ficava sem a nota.
Sentiu que a garota arrastava os
pés. Pareceu não dar confiança para os risos. A turma já começava a caçoar antes
mesmo da garota abrir a boca. Fabríca parecia liderar as alfinetadas. Logo
Fabrícia.Que vontade de rir.Não queria se meter, mas logo Fabrícia. Qual é? A
garota não tinha espelho em casa? E porque Olga não a colocava em seu devido
lugar?
A bagunça estava geral. O
trabalho havia começado e o professor não falava nada. Olhou nos olhos de Olga.
Estava na cara que ela não suportava aquele lugar. Ir à escola não passava de
uma obrigação.
Eles depreciaram sem pena e sem
dó, sem nenhum motivo aparente. Anabel olhava um por um. Fabrícia, Fred, Alex,
cada um tinha uma piadinha para soltar para a menina. Céus, o que uma pessoa
tem que fazer para ganhar pontos? Entendeu a dor de barriga coletiva daquele
grupo. Apresentar um trabalho naquela turma era o mesmo que ser atirado numa
arena de leões.
Olga mantinha-se quase
fria.Falava sobre o trabalho. Escorregava aqui, mantinha-se firme ali. Por hora
brincava também e em outros despejava respostas cáusticas. Ninguém é de ferro.
Olga detestava todos eles. Estava escrito em sua testa.
Fabrícia ficou sem graça, mas não
se deu por vencida. Fred calou a boca logo que foi confrontado com uma resposta
inteligente em rebate a uma coisa errada que ele julgava certa.
Simone ajudava. Simone era uma
boa alma. O trabalho terminou e o professor deu os parabéns.
Anabel sentiu nojo de tudo
aquilo. Nojo de seus amigos, se assim os podia chamar, que diziam toda sorte de
desaforos a fim de unicamente desestabilizar o trabalho da colega. Nojo do
professor que não tinha forças para combater uma turma tão insuportável. Anabel
não era cega. Ele também não gostava deles. Ele simplesmente se deixara vencer.
Entrava na sala. Comentava a matéria em respeito a quem viera realmente
estudar. Recebia outros comentários jocosos e mandava de volta outros, que a
turma nem sempre tinha inteligência para discernir. Passava o dever. Fazia a
chamada. Vez ou outra olhava para o relógio e só dava um leve sorriso quando o
sinal já ia bater.
O pior de tudo fora o nojo que
Anabel sentira dela mesma por não ter defendido Olga. Simone não tivera
coragem? Por que Anabel ficara quieta? Sabia a resposta. Era uma covarde. Não
podia entrar em atrito com aquela gente. Não era como Simone, a queridinha de
todos. Estava do outro lado, como Olga e o próprio professor. Naquela sala,
para sobreviver, era necessário matar um leão por dia.
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