O primeiro dia de aula
O primeiro dia de aula para Anabel. Transferida quase no meio do ano.
Aquilo era injusto. A escola era bonita, mas não se sentiu bem ali. Já
adivinhava que teria problemas.
Anabel entrou na sala de aula. Teve vontade de sair correndo. Entrar
numa turma de segundo ano nesta altura do campeonato era uma loucura. Ela sabia
que ia ser pedreira.
Entrou e sentou-se numa cadeira no fundo da sala. A turma era
barulhenta. Alguns estranharam o fato dela entrar na sala, mas ninguém fez
nenhuma pergunta.
A professora entrou com cara de poucos amigos. Tentava falar e ninguém
deixava. Deus! Aquilo parecia um pesadelo.
Um garoto louro não parava de falar. Levantada a todo tempo. Dizia
gracinhas. Será que era sempre assim? Não gostou dele de cara. Conhecia tipos
como aquele. Tão logo descobriria um apelido para ela e não mais a deixaria em
paz. Que saudade da outra escola. Que saudade do Fernando. Ele jamais faria
algo do tipo com ela.
_ Vamos fazer um trabalho em grupo. _ Propôs a professora. _ Dividam-se
em grupos de quatro.
Anabel sobrou. Mas isso ela já sabia. Não conhecia ninguém e nenhuma
menina lhe estendeu a mão. Anabel já estava acostumada. Mas nem por isso doía
menos. Só não contava que sobrasse para
ela a dupla rejeitada por todos. O garoto louro e o amigo. Formavam uma dupla
intragável. Ela teve que se juntar a eles, por ordem da professora.
Um nó subiu em sua garganta. Fazer um trabalho de grupo com aqueles
garotos?! Ela não merecia. Não no primeiro dia. A professora só podia estar
brincando. Ela entregou o texto na mão de Anabel. Os outros dois não estavam
nem aí.
Era melhor puxar algum assunto ou não ia rolar nenhum trabalho.
_ Oi, sou Anabel. _ Ela disse num fio de voz. _ E vocês?
Os dois a mediram de cima a baixo e o louro falou:
_ Eu sou o Alex e este Guri é o Fred.
_ Vamos começar a ler o texto? _ Ela propôs.
Eles não falaram nada. Apenas ficaram olhando para ela com cara de quem
está diante de um ET.
Ela começou a ter o texto em voz alta. Mas eles não estavam nem aí.
Olhou para eles. Tinham uma cara debochada. Tudo de novo! Pensara que tinha se
livrado disso.
O trabalho não andava. Parecia que ela estava lendo para as paredes.
Alex cochichou algo no ouvido de Fred. Os dois riram. Só podia ser
dela. Mas não falou nada. Não queria confusão no primeiro dia de aula.
_ Tu falas muito engraçado, guria. _ Disse Alex, não se contendo.
_ Você é quem fala engraçado, guri. _ Disse Anabel enfatizando a
palavra guri.
Eles riram novamente. Anabel teve vontade de sair correndo. Logo no
primeiro dia! Por que o pai sempre fazia aquilo com ela?
Voltou a ler. Mais baixo, quase que para si mesma. Não estava nem aí
para aqueles moleques.
_ Vou ao banheiro. _ Disse Alex, levantando-se.
Ele falou com a professora e saiu. Ela não parecia gostar dele também.
Deixou ir sem nenhum problema. Parecia querer vê-lo pelas costas.
Ela e Fred começaram o trabalho. Na verdade ela começou, Fred não
contribuía com muita coisa. Na verdade, com quase nada. Mas pelo menos estava
lá. Enquanto Alex parecia ter esquecido da vida.
_ O guri está demorando, não achas?
_ Não pense que vou colocar o nome dele no trabalho se ele não fizer
nada. _ Disse Anabel, com uma fúria que desconhecia. _ Vai buscar o seu
amiguinho.
_ Vai tu, guria. _ Disse Fred, recostando-se na cadeira.
Que raiva daquele garoto também. Não fazia nada e nem pra buscar o
amigo servia. Se ficasse ali, acabaria pulando no pescoço dele.
_ Vou mesmo. – Disse entregando a folha ao rapaz. _ Vai terminado aí.
Geralmente era mais cordata. Mas estava detestando aqueles dois.
Pediu licença à professora e saiu. Precisava mais
esfriar a cabeça do que achar Alex. Foi
ao bebedouro. Uns meninos jogavam futebol no pátio. Alex simplesmente estava
sentado, assistindo o jogo. Como se não tivesse mais nada para fazer. Mas isso
não ia ficar assim mesmo. Foi até ele.
_ Se você quer ficar aí se divertindo, pode ficar. Mas nem pense que
vou colocar o seu nome no trabalho.
_ Qual é, guria? _ Disse Alex com a mesma cara cínica. _ Já estou indo.
Ela virou as costas e ele veio atrás dela. Ganhou um inimigo. Ela
sentia. Por que os garotos faziam aquilo? Não podia entender.
Com Fernando fora diferente. Ele lhe dava atenção. Por que o pai tinha
que viver pulando de galho em galho? Não estaria tão infeliz agora.
Entrou dentro da sala e arrancou a folha de Fred. Ele não escrevera uma
linha. Olhou para ele. Fuzilando-o com o olhar. Não adiantava. Eles que
ficassem pra lá. Meninos! Ia fazer o trabalho sozinha.
Os garotos brincavam o tempo todo. Anabel tinha vontade de chorar. Mas
não ia dar este gostinho a eles.
Terminou o trabalho e colocou o nome dos dois. O sinal bateu e ela
voltou pro seu lugar. Na hora do recreio ficou sozinha. Não abriu mais a boca,
durante toda aula. Quando o sinal bateu, avisando o fim das aulas, se sentiu
aliviada. Odiou aquela escola. Odiou aqueles garotos. Queria nunca mais colocar
os pés naquela escola. Mas sabia que não podia fazer aquilo.
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