terça-feira, 4 de setembro de 2012

A menina que morava no morro



A menina que morava no morro

         Era uma vez uma menina que morava num morro muito alto. Ela vivia lá porque era mais fresquinho. Sua mãe era confeiteira e resolveu fazer uma casa todinha de doce. O telhado era de chocolate, os vidros das janelas eram feitos de açúcar. As mesas e cadeiras eram feitas de caramelo e as paredes de cocada. Os colchões e travesseiros eram feitos de maria-mole. 
         No centro da sala havia um grande barril com várias torneirinhas. Era só abrir que delas saíam chocolate quente ou gelado, refrigerantes, sucos e vitaminas. Era só escolher.
         Todos os dias a menina descia o morro e ia à escola. E na hora do lanche, que maravilha! Era um festival de coisas gostosas. A Dona Confeiteira entupia a lancheira  de tudo quanto era guloseima. E era tanta coisa que a menina nem aguentava e tinha que repartir com os amiguinhos. Eles gostavam muito!
         O problema era quando esfriava. Como o morro era mais fresquinho no calor, fazia muito frio no inverno e sua mãe fazia muitos cobertores de algodão-doce  para aquecer a menina. Essa parte era boa, pois ela dormia quentinha. Todo o problema acontecia quando a menina ia à escola. Assim como a Dona Confeiteira fazia cobertores de algodão-doce, também fazia casacos. Casacos quentinhos, coloridos e cheirosos.
         Quando a menina chegava à escola, um pegava um pedacinho do casaco aqui, outro pegava outro pedacinho do casaco ali. Até que a menina ficava sem casaco algum. Então ela ficava a aula inteirinha com frio. Que peninha da menina. Gelada, roxinha de frio, o tempo inteirinho.
         Chegava em casa roxinha, morrendo de frio. Pegava uma caneca de chocolate quente da torneirinha e pulava debaixo das cobertas, até sentir o calor voltar.Sua mãe estranhava muito aquilo e achava que a menina sempre perdia os casacos, mas como tinha muitos, não ligava.
         Um dia, ao ouvir o terceiro espirro da filha, perguntou:
_ Filhinha,  por que todos os dias você perde o casaco?
_ Mamãe, eu não perco meus casacos, são meus amiguinhos quem comem.
E explicou tudo à mãe, lastimando  porque sentia muito frio.
         A mãe ficou muito zangada e foi logo dando um jeito de resolver o problema. No lugar de açúcar, colocou sal. E era tanto sal, que o casaco ficou intragável.
No outro dia, quando alguém pegava um pedaço, saía cuspindo fora, ia ao bebedouro e ficava lá um tempão. Na hora do recreio ninguém brincou. Ficaram na fila do bebedouro ou da cantina para comprarem refrigerantes.
Aquelas crianças aprenderam a lição e ninguém mais tocou no casaco da menina. Depois de um certo tempo, a mãe parou com o sal, mas como ninguém sabia, ninguém mais comia. E a menina nunca mais sentiu frio na escola.


Rose Amaral


Fim

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