OS SAPATOS DE DONA DULCE
Quando
a turma de Cacá voltou às aulas, teve uma grande surpresa. A professora da
classe era a dona Dulce, a mais temida da escola.
Dona
Dulce não dava moleza para ninguém. A tabuada tinha que estar na ponta da
língua e ai de quem não conseguisse conjugar todos os verbos. Todo dia alguém
ia parar na secretaria. Julinho era o campeão. Em menos de uma semana, já tinha
visitado a diretora três vezes.
Um
belo dia, dona Dulce chegou à escola com uns sapatos de couro de jacaré. Estava
toda orgulhosa, exibindo o calçado de couro de jacaré legítimo, que foram
trazidos por um parente que morava no Pantanal.
Que
sapato diferente era aquele! Coisas de dona Dulce. Os bicos tinham o formato de
cara de jacaré. Algumas crianças ficaram com medo, enquanto outras ficaram
encantadas.
Quando
dona Dulce foi ao quadro-negro para explicar a matéria, uma das crianças notou
que os olhinhos dos sapatos-jacarés estavam piscando.
Julinho
logo saiu do lugar para examinar os sapatos. Dona Dulce já ia mandá-lo sentar,
mas era tarde demais. Julinho mexeu na cabeça de um dos sapatos-jacarés e este
abriu o maior bocão. Logo o outro pé se animou e passou a fazer a mesma coisa.
A confusão foi geral. As crianças começaram a mexer com os sapatos-jacarés e
estes tentavam mordê-las. E cada vez que eles abriam as bocas, dona Dulce dava
gritinhos de dor, pois isso fazia com que as pontas de seus dedos fossem
apertadas.
E
tanta foi a algazarra que até a diretora chegou para dar uma olhada. A turma
estava toda de pé. Algumas meninas subiram nas carteiras, com medo de serem
mordidas. Dona Dulce subiu na cadeira, com medo que os sapatos-jacarés
mordessem seus alunos. A confusão era tanta que a diretora resolveu dar folga
para dona Dulce e dispensar a turma naquele dia.
A
festa foi geral. Cacá e o resto da turma foram logo colocando os materiais
dentro das mochilas. Estavam dispensados!
Mas
turma de dona Dulce não tem colher de chá. Depois de um copo de água com
açúcar, a professora tirou os sapatos-jacarés e os colocou num cantinho da
sala, para não serem incomodados e não incomodarem ninguém. E continuou dando
aula com uns chinelos que tomou emprestados com a zeladora da escola.
Alguns
pensaram que os sapatos-jacarés iriam sair correndo, mas nada aconteceu. Depois
de algum tempo, eles foram fechando os olhinhos e acabaram por cochilar o resto
da aula. Na hora de ir embora, dona Dulce os colocou dentro de uma sacola e os
levou para casa.
No
outro dia, tudo voltou ao normal. Dona Dulce foi trabalhar com o sapato preto
que sempre usava. Cacá perguntou pelos sapatos-jacarés e dona Dulce falou que os
doara para um zoológico. E logo depois, mandou que a turma abrisse os livros de
português na página trinta e seis e avisou que aquele dia o recreio seria mais
curto para compensar o tempo perdido com a confusão dos sapatos.
FIM
Rose Costa do Amaral
06.03.2001
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